Arquitetura

Profissão | Não mais Arquiteta

Desde que chegados neste lindo país gelado ou desde que os planos de vir pra cá deixaram de ser aquela grande nuvem de incertezas, que eu tenho dificuldade de dizer o que faço/qual é minha profissão. 

Em contexto, pra quem não sabe, aquele indivíduo potencialmente criativo que estudou 5+ anos sobre arquitetura (e no meu caso, tambem urbanismo), não pode se intitular como tal, em terras canadenses. E que o diploma não vale aqui! (primeira coisa que passa pela cabeça e é a pura verdade). 

Já devo ter explicado aqui no blog, mas a dá pra entender o por quê das coisas serem como são. Você vai lá e estuda estruturas de concreto armado, fechamentos e paredes em alvenaria, lajes, fundações, telhado de telha cerâmica e todas as práticas comuns de construção neste adorável clima tropical (ou subtropical, né Rio Grande do Sul!).

Daí você chega por aqui e joga tudo isso numa caixa de ferramentas e esconde no basement (ou na garagem –  que muita gente aqui usa como deposito de tudo, menos de carro -true story).

Arquitetura residencial por aqui, por exemplo, é feita de estrutura de madeira, fechamento de plástico com isolamento térmico, janela com vidro duplos (no mínimo), fundação é basement, telhado de madeira com telhas asfálticas e muito mais. Não quero entrar na questão se é melhor ou pior, só totalmente diferente.

Então, de certa forma, ate que dá pra entender que um profissional tenha que passar por algum tipo de readaptação quando muda pra cá. Agora, se o processo de validação é ou não justo, fica pra outro dia… 

O inicio pra mim foi desafiador porque além de perder o medo de pedir até uma pizza pelo telefone (yeah, até pra isso eu era insegura – parecia que eu não conseguia entender o que esses “gringos” falavam pelo telefone – dá pra falar mais devagar, please?!!).

Eu tive que realmente me esforçar pra aprender, sem professor >> só com chefe, as práticas daqui, pensar em polegadas e não em centímetros, deixar lá no cantinho escondido o que é projetar algo ultra-moderno ou minimalista (já falei que o pessoal por aqui é conservador pra caramba?). Hoje, são mais ou  menos 7 anos que eu não lido mais com projetos e construção no Brasil e pra ser sincera, eu me sinto muito mais confortável nos sistemas e práticas daqui.

E a vida né, o que a gente não usa, acaba esquecendo. Estou totalmente por fora dos materiais construtivos em alta no Brasil, o que o pessoal anda ou não fazendo, as normas vigentes e tudo mais. Até pra falar sobre detalhes de projeto em português eu tenho dificuldade.

Depois de 2 anos de licença maternidade, auto-presenteada e muito bem aproveitada e apreciada, são quase 6 meses que eu voltei à ativa, trabalhando na área de projetos numa empresa de reformas e construção aqui em Ottawa. E

stou feliz com o fato de estar de volta ao mercado na área que escolhi como profissão. Hoje meu título é de architectural designer, um dos usuais títulos pra quem trabalha como arquiteto, sem ser, oficialmente, um (na empresa em que trabalho não tem nenhum arquiteto licenciado, diga-se de passagem.).

Por isso que quando me perguntam o que faço, eu raramente digo que sou arquiteta. E se digo, já adiciono o fato de eu ter estudado e graduado no Brasil, e que lá eu era arquiteta licenciada.

Digamos que além de outras coisas, você perde um pouco do glamour vindo pra cá rsrsrs. Muita gente já me perguntou se pretendo fazer o processo de validação e sinceramente, não sei.

Fiz a pós-graduação na área de arquitetura sustentável por aqui, mas isso não necessitou nenhum tipo de validação, apenas, entre outras coisas, a apresentação do diploma (devidamente traduzido, of course) e nem facilitou diretamente minha potencial licença.

Por enquanto esse assunto é bem aquela grande nuvem cheia de incertezas e de cifrões.   Esse post vai em homenagem ao diversos pedidos pra eu escrever sobre isso através da nossa pagina no FB e outros meios.

Espero ter podido esclarecer de alguma forma. Keep the suggestions coming people!

7 Comments

  • bruna bertin

    Oi Adriane, tudo bem? Cheguei ao seu blog através do site Mundo Pequeno. Eu quero na verdade te pedir um favor… estou terminando minha graduação no curso de Comércio Internacional na Universidade de Caxias do Sul (vi que vcs são gaúchos, não sei se conhece a cidade!). Minha pesquisa para o trabalho final é sobre mulheres brasileiras que seguiram carreira no exterior (por acaso, seu post é bem sobre isso!! =D). E eu queria pedir a vc se me concederia uma entrevista sobre sua experiência. Essa entrevista aconteceria apenas no segundo semestre desse ano, pois nesse primeiro semestre estou desenvolvendo minha pesquisa! Dados pessoais e da empresa não serão divulgados em nenhum momento. Agradeço muito se você puder me ajudar! Meu e-mail é brunabertin@gmail.com. Beijos!

  • -raah*

    Oi Adriane, tudo bem? Meu nome é Rhayssa e, poxa, adorei saber de uma arquiteta no Canadá! Eu estou quase me formando em arquitetura aqui no Brasil e quero muito imigrar para o Canadá daqui a uns anos! Sei que o processo de regulamentação é meio chato, mas é a profissão que eu escolhi e vamos ver o que acontece! rs
    Você poderia contar mais sobre sua vida de "não arquiteta" ai? Se foi difícil você conseguir o emprego, se o salário é menor que o arquiteto regulamentado, quais são suas tarefas e até onde você pode ir por não ter sido regulamentada ainda.
    Obrigada! ;D

  • Pamela Assmus

    ADRIANE, tudo bem?! Gostei muito do seu comentário sobre sua experiência ai. Isso só aumentou minha curiosidade. Não pretendo ir pro Canadá, mas gostaria de saber mais detalhes sobre a vida de um arquiteto de fora aí. Como é o mercado, no que vc atua. Se tiver tempo mande um email pa_assmus@hotmail.com ficarei super agradecida!!! 😉

  • Sheila Pacheco

    amando o blog!
    cheguei em Torono a 6 meses p estudar Architectural Technology no centennial College e pretendendo trabalhar com interiores desde o começo que adoro!
    suas dicas são ótimas! divulgando p mais amigos! obg